Há uma
pressão enorme para incluir as tecnologias móveis na educação. Alguns colégios
e instituições superiores entregam tablets ou netbooks para os alunos como
parte do material escolar. Há uma tendência à substituição dos livros de texto
por conteúdos digitais dentro de tecnologias móveis. Uma justifica é diminuir
de peso das mochilas dos alunos; outra, baratear do acesso ao conteúdo não impresso
(além de ser ecologicamente mais correto); também é visto como importante
oferecer recursos de pesquisa, de leitura e de comunicação próximos dos alunos,
dos ambientes digitais que frequentam, para motivá-los mais a aprender.
Este é um
campo minado de discussões, decisões, interesses. Qualquer análise ainda é
parcial, provisória, precária. Mesmo assim, esta é a percepção que tenho no
momento.
As
tecnologias móveis trazem enormes desafios, porque descentralizam os processos
de gestão do conhecimento: podemos aprender em qualquer lugar, a qualquer hora
e de muitas formas diferentes. Podemos aprender sozinhos e em grupo, estando
juntos fisicamente ou conectados. Na medida que entram na sala de aula o seu
uso não pode ser só complementar. Podemos repensar a forma de ensinar e de
aprender, colocando o professor como mediador, como organizador de processos
mais abertos e colaborativos.
No
Brasil, os smartphones e os tablets ainda estão numa fase de experimentação
dentro das escolas. Trazem desafios complexos. São cada vez mais fáceis de
usar, permitem a colaboração entre pessoas próximas e distantes, ampliam a
noção de espaço escolar, integrando os alunos e professores de países, línguas
e culturas diferentes. E todos, além da aprendizagem formal, têm a oportunidade
de se engajar, aprender e desenvolver relações duradouras para suas vidas.
Ensinar e aprender podem ser feitos de forma muito mais flexível, ativa e
focada no ritmo de cada um.
A tela
sensível ao toque permite uma navegação muito mais intuitiva e fácil do que com
o mouse. Crianças pequenas encontram os jogos e aplicativos muito mais
rapidamente. Com o barateamento progressivo a partir de agora, estarão muito
mais presentes dentro e fora da sala de aula. Permitem experimentar muitas
formas de pesquisa e desenvolvimento de projetos, jogos, atividades dentro e
fora da sala de aula, individual e grupalmente. O professor não precisa focar
sua energia em transmitir informações, mas em disponibilizá-las, gerenciar
atividades significativas desenvolvidas pelos alunos, saber mediar cada etapa
das atividades didáticas. Poderemos ensinar e aprender a qualquer hora, em
qualquer lugar e da forma mais conveniente para cada situação. Os próximos
passos na educação estarão cada vez mais interligados à mobilidade, flexibilidade
e facilidade de uso que os tablets e ipods oferecem a um custo mais reduzido e
com soluções mais interessantes, motivadoras e encantadoras. Não podemos
esquecer que há usos dispersivos. É cada vez mais difícil concentrar-se em um
único assunto ou texto, pela quantidade de solicitações que encontramos nas
tecnologias móveis. Tudo está na tela, para ajudar e para complicar, ao mesmo
tempo.
As
tecnologias móveis desafiam as instituições a sair do ensino tradicional em que
os professores são o centro, para uma aprendizagem mais participativa e
integrada, com momentos presenciais e outros a distância, mantendo vínculos
pessoais e afetivos, estando juntos virtualmente.
As
inovações mais promissoras encontram-se em escolas que têm tecnologias móveis
na sala de aula, utilizadas por professores e alunos. Os programas de um
computador ou tablet por aluno, ainda em fase experimental em centenas de
escolas municipais, estaduais e particulares, sinalizam mudanças muito
importantes na forma de ensinar e de aprender. As aulas são mais focadas em
projetos colaborativos, os alunos aprendem juntos, realizam atividades
diversificadas em ritmos e tempos diferentes. O professor muda sua postura. Ele
sai do centro, da lousa para circular orientando os alunos individualmente e em
pequenos grupos. As aulas de 50 minutos não fazem sentido, porque dificultam a
sequência de tempos para atividades de pesquisa, análise, apresentação,
contextualização e síntese.
Tablets ou ultrabooks?
No
momento atual é difícil escolher uma das duas ferramentas sem perder algo. Os
tablets atraem mais, são mais intuitivos, fáceis de manusear, de ler. Aos
poucos chegarão com comandos de voz, sem precisar tocar na tela para acontecer
o que desejamos conseguir. Os ultrabooks são mais rápidos, leves e com mais
recursos. A tendência é a dos ultrabooks. Os tablets não privilegiam o ato de
escrever, fundamental para aprender. Têm teclado, mas ainda não está totalmente
integrado, de forma fácil para quem escreve muito. Percebo que é uma questão de
pouco tempo para termos no mercado tablets que incorporem os melhores recursos
dos notebooks mais poderosos. Na minha opinião não deveríamos, atualmente,
optar por uma ou outra ferramenta exclusivamente, mas ter ambas disponíveis
para os alunos, permitindo a escolha pessoal, de acordo com o perfil de cada um
e de como vai utilizá-los mais. Os tablets e smartphones são mais avançados,
inovadores e chamativos. Os notebooks procuram incorporar alguns dos avanços de
ambos. É uma decisão ainda em aberto, aguardando a evolução integradora das
tecnologias móveis.
Alguns aplicativos para
tecnologias móveis
Os
aplicativos cada vez mais se adaptam aos principais sistemas operacionais,
abertos e fechados. Os aplicativos mais interessantes que conheço,
principalmente para smartphones, ajudam no aprendizado de línguas. Cursos
inteiros podem ser acompanhados por podcast ou vídeos, com testes adequados e
ambientes de colaboração como os que acontecem em redes sociais. Gosto, por
exemplo, do LearnEnglish do British Council com histórias em capítulos, jogos,
desafios e integração com Facebook e Twitter. Outro semelhante é o ESLPod com
histórias do cotidiano e explicações das principais expressões em ritmos
diferentes. Tem aplicativos como o Stitcher que organiza os programas de rádio
e podcast por temas e línguas e são extremamente variados e atualizados e podem
ser acessados a qualquer hora e de qualquer lugar. Tem o Google Earth e todas
as possibilidades de utilização principalmente em Geografia, o YouTube com a
imensa variedade de vídeos, de canais e de facilidade de postagem de novos
vídeos feitos pelos alunos. O Google Sky Map – ao apontar o smartphone para o
céu e o Google Sky Map mostrará as estrelas, planetas, constelações e muito
mais para ajudar a identificar os objetos celestes em vista. O aplicativo mais
conhecido é o Wikipedia - da maior enciclopédia online colaborativa. Também é
interessante o Celeste CE - Basta apontar a câmera e ver exatamente onde cada
objeto do Sistema Solar está localizado de dia ou noite. O Inclass e o My Class
Schedule - Aplicativos para que o estudante organize horários de estudo, notas
e todas as informações do seu curso. Tem os aplicativos que utilizam a
localização por GPS e que permitem interagir com outras pessoas naquilo que se
precisa, enviar fotos, trocar vídeos, desenvolver projetos juntos. A tendência
é a de termos muitas mais soluções para todas as nossas necessidades. O que
nunca pode faltar é a vontade e o gosto por aprender.
Existem centenas de aplicativos interessantes para
a sala de aula, por faixa etária e por área de conhecimento:
Os melhores aplicativos para
crianças (1-5 anos e 6-10 anos):http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/melhores-aplicativos-criancas-729539.shtml
50 ferramentas online para professores:
Os 101 sites mais úteis da
Internet:
Aplicativos e Games para Ciências,
Idiomas:
Conclusão
Todas as tecnologias nos ajudam e ao mesmo tempo
nos complicam. Depende de como as integramos no que pretendemos. Elas podem nos
ajudar a aprender e a evoluir, mas também favorecem a dispersão nas múltiplas
telas, aparelhos, aplicativos, redes. Ajudam a comunicar-nos melhor, mas também
a desfocar-nos, distrair-nos, tornar-nos dependentes. A educação é um processo
rico e complexo de ajudar a aprender, a evoluir, a ser pessoas livres. As
tecnologias fazem parte do nosso mundo, nos ajudam, mas ainda precisamos
experimentar muito para encontrar caminhos de integração que nos permitam
avanços significativos na escola e na vida.
Do livro “Novas Tecnologias e Mediação
Pedagógica”, Papirus, 21ª ed, 2013, p.30-35 (texto ampliado)
Moran, José Manuel. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/tabletseduc.pdf. Acesso: 24 de Abril, 2016.
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